XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – 2/AGOSTO/2015

a_EuSouOPaoDaVidaSTO. PEDRO JULIÃO EYMAR (1811-68). Após vários anos (1839-56) como membro da “Sociedade de Maria”, este padre secular natural de Esère (França), fundou a “ Congreg ação dos Sacerdotes do Santíssimo Sacramento” destinada a propagar a devoção eucarística. Nos últimos anos de vida sofreu a incompreensão dos seus religiosos : “Eis- me aqui Senhor no Jardim das Oliveiras, humilhai-me, despojai- me, dai- me a cruz, contanto que me deis também o Vosso amor e a Vossa graça”. Foi canonizado em 1962.

Êxodo 16, 2-4. 12-15 ; Sal 77, 3-4. 23-25. 54 ; Efésios 4, 17. 20-24 ; João 6, 24- 35

“DO CÉU, EU VOU FAZER CHOVER PÃO…” (Êx.16,2-4.12-15). O grande actor do Livro do Êxodo, não é Moisés, é O próprio Deus. A insistência do Livro neste ponto é manifesta. Sempre que Moisés ergue o seu cajado para realizar um prodígio – atravessar o mar, fazer sair água de um rochedo, mudar em sangue a água do Nilo… -, mostra que a sua força lhe vem dO Senhor do Universo. Isto significa que os filhos de Israel, quando recriminavam contra Moisés, era contra O próprio Deus que o faziam. E como recriminavam os israelitas ! Por todo o acampamento se ouviam os lamentos d aqueles que se recordavam com saudade da vida no Egipto; tempo de abundância e de facilidades!: “Sentávamo-nos junto às panelas de carne… Comíamos pão até nos saciarmos!” Em comparação, o deserto era terrivelmente estéril e cheio de perigos. Perante as dificuldades que experimentamos, há sempre duas reacções possíveis: confiança ou desconfiança em Deus. A confiança sugeria- lhes que Deus não os tinha certamente libertado para depois os deixar morrer à fome e que Ele manteria a Sua promessa de lhes dar uma terra. Esta confiança nunca abandonara Moisés e os seus mais próximos : Aarão, Josué, Caleb. Mas a desconfiança, nalguns dias, falava mais alto no povo, ao ponto de dizerem: “Vós fizestes-nos sair para este deserto para fazer morrer de fome toda esta assembleia !” Mais uma vez, Deus deu a este povo desconfiado uma resposta que garantia a Sua fidelidade e misericórdia inesgotáveis: “Após o pôr do sol, comereis carne e, amanhã pela manhã, tereis p ão para vos saciardes”. Todavia, o pão que caíu do céu tinha que ser apanhado com esforço, e Deus organizara as coisas de forma a elas serem uma verdadeira pedagogia. Em cada dia, só era possível, a cada um, apanhar a sua ração diária de maná, porque as reservas de tudo o que fosse em maior quantidade criavam bolor. Assim aprendia-se a ter confiança em Deus para o dia seguinte e, ao mesmo tempo, evitava-se o açambarcamento do que pertencia aos outros. A oração do Pai-Nosso convida à mesma atitude : dizer , “Dai-nos o pão nosso de cada dia”, é dizer que Deus pode e quer alimentarnos, mas comprometendo-nos a não procurarmos mais do que aquilo que, em cada dia, nós é necessário.

ACEITAR AQUILO QUE VEM (Jo.6,24-35). “O amor (…) e a fé tornam possível aquilo q ue não é razoavél”, escreve STA. Teresa d´Ávila no seu “Livro das Fundações”. No nosso mundo em que se procura “securizar” tudo, esta convicção é quase provocatória. Ela é um belo eco do relato do Livro do Êxodo e das palavras de Jesus no Evangelho. É também uma excelent lição de humildade. Ao curvarem-se para recolher o Maná, os filhos de Israel aceitavam não ser os únicos senhores da sua existência. Eles deviam aceitar aquilo que vem. Não dispunham da abundância de carne do Egipto, mais saborosa que o maná, mas eram convidados a descobrir o sabor que tem o pão vindo do Ceú. A simplicidade e a sabedoria que assim experimentaram , levou-os à descoberta pela fé, que é O Senhor quem lhes dá de comer. O amor e a fé encontraram-se, então, na aridez do deserto. Esta experiência, como explica Jesus, será o primeiro passo para uma verdadeira mudança das nossas prioridades de acordo com o Evangelho. Os díscipulos compreendem, num segundo movimento, que, mesmo oferecido por Deus, o pão essencial não é aquele que sustenta os nossos corpos. O pão verdadeiro é Cristo que, alimentando-nos, dá aos nossos corações o gosto do amor e da liberdade. Não percamos pois a nossa energia numa actividade frenética que nos assegure os bens até ao fim dos dias. Não nos esgotemos numa corrida para a abundância. Mobilizemos sobretudo as nossas vidas na procura do pão que alimenta interiormente para o partilharmos. Deixemo-nos surpreender pelo seu sabor novo.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.