QUARTA-FEIRA – 1/ABRIL/2015

QuartaFeiraSantaIsaías 50, 4-9a ; Sal 68, 8-10, 21bcd-22. 31. 33-34 ; Mateus 26, 14-25

“NÃO DESVIEI O MEU ROSTO…” (lsaías.50,4-9a). Procuramos o rosto de Deus, a Sua face gloriosa.
E eis a resposta da Palavra divina, de uma ousadia escandalosa: O Servo não é a resposta de Deus
à questão do filósofo, é a resposta pessoal de Deus dirigida ao coração de cada homem. Inverosímil paradoxo : é por intermédio do rosto de um homem desfigurado, ridicularizado, sujeito aos insultos e escarros – um rosto sem rosto – que nos é revelada a face dO Deus vivo. Mas se Ele se sujeitou à traição e malícia dos homens, se foi totalmente desapossado de Si mesmo no sofrimento e na morte, foi porque é a escuta total da Palavra de Deus, da disponibilidade absoluta à Sua vontade e da pura relação filial com O Seu Pai. Entregando-Se assim, revelou-nos o último nível de profundidade do mistério do amor gratuito, e a glória d’Aquele que não podemos ver sem morrer. Revelou-nos assim o grau de desapropriação de nós mesmos, que temos de realizar e oferecer, para nos abrirmos à plenitude dO Mistério de Deus. Ensina-nos sobretudo, que Ele está infinitamente próximo e que podemos atingi-lO e fazer a experiência da Sua Presença sempre que surge, na nossa vida, um sofrimento, uma humilhação… Hoje, à luz do rosto desfigurado de Cristo, aprendamos a olhar e a amar todos os homens!

“EM CASA DUM CERTO…” (Mateus 26,14-25). Não será estranho que tratando-se de uma acção tão importante -instituição da Eucaristia, ponto de chegada da antiga Aliança e início da Nova- não será será de admirar que o evangelista omita o nome do proprietário da casa ? Pormenor sem importância, dir-se-á. Prefiro porém ver aqui um daqueles silêncios que dizem mais que os nomes e pormenores duma qualquer pessoa anónima, ou do que quaisquer indicações topográficas sobre a localização da casa ; prefiro ver algo que reforça e continua as palavras de Jesus à Samaritana : “Vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros crentes adorarão O Pai em espírito e verdade”. É em tua casa que Eu quero celebrar a Minha Páscoa com os Meus discípulos. Um anonimato que, no fundo, faz deste pedido o mais universal e pessoal que pode fazer-se a alguém. Não é em tal nº da rua, nem sequer na igreja do meu bairro, mas sim na-minha-casa… Na verdade, os próximos quatro dias: quinta, sexta e sábado santos e o domingo de Páscoa, nada significarão no calendário pregado na parede da minha casa ou na vitrine paroquial, se o verdadeiro santuário não for, em primeiro lugar, eu mesmo. Eu mesmo, e não apenas o tempo de algumas “cerimónias”, de algumas “celebrações”, pese embora roubadas aos meus tempos de trabalho ou de lazer. O que Eu quero é celebrar na tua casa – Eu em ti e tu em Mim – o sacrifício espiritual da reconciliação, da perfeita união restabelecida com O teu Pai e com cada um dos teus irmãos, como se não haja outro cenáculo na Igreja.

“Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye. Selecção e síntese: Jorge Perloiro.