TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS. No cristianismo, não há o culto dos mortos própriamente dito. Este culto dos antepassados existe nas religiões tradicionais, especialmente em África, e leva os vivos a sacrificar animais ou a oferecer alimentos com o fim de atrair o favor dos defuntos. Nos cristãos, nada disto se passa, mas a Igreja recomenda fortemente orar por e com os mortos, particularmente na segunda parte da oração eucarística, quando manifesta a nossa comunhão com a Igreja do Céu. Na verdade, ainda que os defuntos sejam invisíveis aos nossos olhos, eles continuam a existir. Essa é a razão pela qual a Igreja ora por e com eles, afim dO Deus da vida os receber na Sua luz. Orar por e com os defuntos, significa que esperamos a ressurreição dos mortos no mundo que virá. Orar por e com os amigos que nos deixaram, é tender para as coisas do alto e não para as da terra. Deles, diz o sacerdote: “Recebe-os no Teu Reino, onde nós esperamos ser cumulados da Tua glória”.
Job19,1. 23-27a ; Sal 24 ou Sal 102, 8.10.13-18 ; Rom.14, 7-9.10b-12 ; Jo.3,16-17 ou Jo.6, 37-40
“EU VEREI A DEUS…” (Job 19,1.23-27a). Ver a Deus : era o desejo não satisfeito de Moisés e de tantos profetas e místicos. Para a tradição judaica, era impossível ao homem ver a Deus e viver. A força que Job arranca da sua revolta leva-o porém a recusar as imagens de Deus que a teologia e a religião tradicional ofereciam. O Deus que Job reclama não é juíz que distribua penas e recompensas. Não é Deus cruel, escrutinador dos recantos do coração humano, nem Deus inacessível que abandona o homem ao seu destino. Ele é, para além de todas as representações e contra todas as aparências, aquele Deus a quem Job continua, paradoxalmente, a atribuir a justiça, a verdade e a presença.
Ele é um Deus incapaz de abandonar um homem sofredor que O invoque com certeza apaixonada.
TODOS SÃO CHAMADOS À VIDA ETERNA (João 6,37-40). É O próprio Jesus que o diz. Ele veio “procurar o que estava perdido”. Nisto, Ele faz a vontade de Seu Pai: “Que não perca nenhum daqueles que lhe foram dados, e que Ele os ressuscite no último dia”. Esta é uma palavra boa de escutar hoje, quando recordamos os defuntos. Como Job, somos convidados a crer que, no último dia, “Deus Se erguerá”, que O veremos com a carne, e “Ele não será mais um estranho”. Senhor, quero ver as palavras de Job, “esculpidas na pedra”. Elas serão para mim palavras de esperança.
Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris)
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