S. CRISANDO e STA. DARíA (séc. III). Crisando e a esposa Daría são talvez o primeiro casal a ser canonizado (no séc. III pelo papa Dâmaso, que fez o elogio da sua vida). Crisando era filho de um senador pagão, mas estudioso, ao ler os Actos dos Apóstolos converteu-se e baptizou-se. O pai mandou prendê-lo e obrigou-o a casar com a sacerdotiza vestal Daría (prostituta sagrada !) para que ela o corrompesse. Mas fé e o ex. de vida de Crisando converteu-a a ela e viviam como bons cristãos. Denunciados foram entregues ao magistrado Cláudio que, ao ver como suportavam os martírios, também se converteu com a mulher e dois filhos. Crisando e Daría foram enterrados vivos e o magistrado e a família, decapitados.
Jeremias 31, 7-9 ; Sal 125, 1-6 ; Hebreus 5, 1-6 ; Marcos 10, 46-52
CHAMADOS A UMA VIDA TOTALMENTE NOVA (Marcos 10,46-52). O filho de Timeu não pode mais. As multidões passam diante de si, triste mendigo, sem ele sequer as ver. Cego, está sentado à beira do caminho, sem ver a luz do dia nem poder apreciar as alegrias da sua própria existência. Bartimeu está triplamente excluido : ele tornou-se invisível, impassível e insensível. É infeliz porque esperava outra coisa da vida. A imagem, pormenor dum quadro de Ducio, pertencente ao retábulo do altar da Catedral de Siena está na National Gallery, em Londres. Representa a praça ou rua duma cidade, usando os elementos de perspectiva conhecidos na época para evocar um espaço urbano. Retrata um homem cego que apoiado no bordão avança prudentemente para o meio desse espaço. O olhar do pintor compadece-se deste homem desorientado que, por não ver o que o rodeia, usa o ouvido à procura do caminho que o levará a Cristo. Mas é Jesus que Se aproxima, Se debruça sobre ele, estende a mão e lhe toca os olhos. Jesus não lhe permite ver sómente o mundo com os olhos da carne, Ele abre-lhe também os olhos da fé e parece convidá-lo a ver cada pessoa e cada coisa como Ele as vê. O jovem homem, cego de nascença, que chamara duas vezes Jesus sem cuidar se era importuno, acreditara nas palavras dos que o convidavam a ter confiança, enunciara-lhE com clareza o seu desejo e, uma vez alcançado, permite-se agora ter uma atitude de homem livre e seguir o caminho de Jesus que nada lhe pedira em troca. Apesar de ser pobre e deficiente, teve uma enorme vontade de viver. Tudo nele é uma lição para nós: por ser vivo, tenaz, ágil e se manter informado, malgrado a cegueira, por ter discernido de imediato a“passagem” por onde podia intrometer-se numa melhor viver. Na sua audácia foi descarado a pedir. Não reprimiu a vida que nele ardia. A Luz que restituiu a vista a Bartimeu é a que jorrará do túmulo na madrugada da Páscoa. Jesus já anunciara por três vezes a Sua Paixão e está agora a caminho para Jerusalém. Não há pois tempo a perder. À diferença doutros enfermos, Bartimeu não é mandado para casa. É-lhe permitido seguir Jesus imediatamente, consciente que só Ele pode cumular-lhe as faltas e iluminar-lhe a vida. Neste dia, Bartimeu retomou o caminho da esperança. Mas o acontecimento de Jericó ilumina também o nosso quotidiano. Há acontecimentos que necessitamos aprender a ver à luz da fé e da ressurreição de Cristo. O Evangelho cura-nos das cegueiras. Teremos nós já alguma vez perguntado a um desconhecido : “Que queres que eu faça por ti ?” Se, de facto, desejamos seguir Cristo, somos convidados a fazer esta pergunta aos que a aguardam à beira dos caminhos da vida, por vezes bem complicados. Vamos retirar das Eucaristias desta semana força para as audácias exigidas no serviço dos nossos irmãos.
Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.
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