S. LOURENÇO DE BRINDISI (1559-1619). Capuchino, um dos mais notáveis adversários do seu tempo do protestantismo. Pregou 20 anos na Itália. É Doutor da Igreja.
Êxodo 14, 21–15,1 ; Êxodo 15, 8-10. 12-13. 27 ; Mateus 12, 46-50
A PÉ ENXUTO (Êxodo 14,21–15,1). Moisés, mandado por Deus estende a mão, separa as águas e faz aparecer o leito ; os filhos de Israel podem entrar e marchar, através do mar para a vida. Isto corresponde ao acto criador do cap. l do Livro do Génesis: Deus separa as águas do alto das águas de baixo para fazer aparecer a terra enxuta e emergir a vida. Os sacerdotes de Israel que escreveram os dois relatos em paralelo quizeram celebrar O Deus único, simutâneamente criador e salvador. Eles ajudam-nos a compreender que a criação é da parte de Deus um acto de salvação: Deus cria, ao salvar o mundo do abismo e do caos; mas eles dizem também que a salvação que Deus nos oferece é criação para uma vida nova, através do mar, através da morte. S. Gregório de Nissa interpreta a passagem do Mar Vermelho como uma imagem do baptismo: “Todos os que passam pela água sacramental do baptismo devem fazer morrer nessa água o exército de todos os vícios que lhes declaram guerra, como são a avareza, os sentimentos de vaidade e de orgulho, os ataques de violência, de cólera, de rancor e de inveja, para romper assim a continuidade da engrenagem do mal”. Numa primeira leitura, isto pode parecer-nos muito voluntarista. Mas ela é útil para nos dar consciência do empenhamento indispensável da nossa vontade e nos recordar que Deus, se não quisermos ser salvos, não pode salvar -nos.
“QUEM FAZ A VONTADE DE MEU PAI É PARA MIM UM IRMÃO, UMA IRMÃ…” (Mat. 12,46-50). Esta declaração de Jesus pode destabilizar o nosso sentido de família: ao designar aqueles que O escutam como parentes, O Senhor parece quebrar os laços legítimos. Ora, Jesus só afirma aqui que aos olhos de Deus, o valor decisivo de uma pessoa não reside nos laços de uma filiação carnal, mas na sua disposição espiritual para acolher a vontade de Deus. Deus ama-nos na medida da nossa santidade. Mas O Senhor é sempre O primeiro a amar-nos. Lembremo-nos que na fonte da intimidade com Cristo, está o conhecimento dO Pai, e também que Jesus recebe como irmãos os que, como Ele, e n´Ele, se colocam à Sua escuta. Atitude filial que encontrou em Maria a expressão perfeita. “Que os outros sejam a paixão e a chaga pelas quais Deus possa irromper nas forticações da nossa suficiência, para aí fazer nascer uma humanidade nova e fraterna”. Que este desejo de Pierre Claverie (1938-96), bispo de Oran assassinado na Argélia, seja o nosso!
Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint -Martin de Mondaye. Selecção e síntese: Jorge Perloiro.