Actos 10, 34a. 37-43 ; Sal 117 ; Colossenses 3, 1-4 (ou 1 Col.5, 6b-8) ; João 20, 1-9
“VÓS SABElS O QUE SE PASSOU…” (Actos 10,34a.37-43 ; Col.3,1-4). Cristo ressuscitou, aleluia! Pedro ao dirigir-se ao centurião do exército romano recorda em primeiro lugar o que toda a gente podia saber: a história de Jesus da Nazaré desde os seus começos na Galileia até à deposição no túmulo. A seguir anuncia o que só ele e alguns outros tinham testemunhado : esse homem, Jesus, tinha sido ressuscitado por Deus que O fizera Senhor e Juiz dos vivos e mortos. Eis o que sucedeu noutro tempo e noutro lugar. Porém, se o grito Pascal “Cristo ressuscitou! Sim, Ele ressuscitou na verdade !” pode sair ainda hoje dos nossos lábios e encher-nos o coração, é porque este acontecimento permanece vivo, semelhante a uma semente que deseja frutificar na nossa vida. “Vós ressuscitastes com Cristo” escreve S.Paulo. Tudo o que diz pode resumir-se assim : “Continuai a ressuscitar com Ele, aqui, agora e sempre”, “Vós sabeis o que se passou : Cristo Ressuscitou !”. Sim, nós sabemo-lo, mas tão pouco e tão superficialmente! Trata-se dum mistério insondável porque é também o mistério dO Amor de Deus. Há dois patamares de conhecimento que teremos sempre que tentar ultrapassar e quem pretender saber tudo bloqueará o germinar da semente pascal na própria vida e será causa de sofrimento para toda a Igreja. Cristo está ressuscitado ; Ele ressuscitou na verdade! Não sabemos ainda o significado completo deste acontecimento e uma das lições das leituras da liturgia da Palavra será esta: Ficai abertos e sensíveis à aprendizagem ; deixai que O Espírito Santo vos ensine, até ao conhecimento perfeito, até ao cântico de aleluia que cantareis eternamente no céu.
CORRER… CORRER… CORRER… (Jo.20,1-9). Maria Madalena corre. Pedro corre. O outro discípulo corre. A pedra rolada e o túmulo vazio fazem mexer e correr. “Nós não sabemos onde O depositaram !”. Os evangelhos nunca falam do momento da Ressurreição. Apenas a experiência dos homens e mulhelheres, que tinham seguido Jesus e descobrem que nada acabou na Cruz e no túmulo, nos é narrada ao longo dos evangelhos. Por isso não é possível passar ao lado das Escrituras. Toda a nossa vida encontra ali sentido. Toda a história da humanidade, que lêmos na noite da Vigília pascal, está ali escrita. Toda a fidelidade de Deus, que nunca cessa de renovar a aliança com o Seu povo, está ali narrada. Pedro corre ao túmulo. Mas ele não está só. São dois. Como se Pedro nos conduzisse nesta corrida louca da manhã de Páscoa. O outro discípulo vê e acredita. Felizes os que crêem sem terem visto!
O RESSUSClTADO REVELA-SE POUCO A POUCO . “Terminaram os dias da Paixão, segui agora os passos dO Ressuscitado ; segui-O a partir de agora até ao Seu Reino onde finalmente possuireis a alegria perfeita”. Com estas palavras, o celebrante conclui a benção solene da missa do domingo de Páscoa. Este envio significa que o tempo da Ressurreição se prolonga durante todo o tempo pascal, nos 50 dias, nas sete semanas que conduzem até aO Pentecostes, e bem mais adiante, de domingo em domingo, durante todo o ano. Os evangelhos deste mês de Abril revelam-nos a presença de Cristo que se manifesta nos Seus discípulos. Ele apresenta-Se igualmente como O verdadeiro pastor que dá a própria vida pelas Suas ovelhas. Vejamos com atenção as passagens dO Evangelho que a Igreja nos propõe. Hoje a nova tradução, mais correcta, relata-nos a vinda de Maria Madalena ao túmulo quando “ainda eram trevas”. Sabemos o significado que o evangelista João dá à palavra, “trevas”… Utiliza-a desde o prólogo do seu evangelho para designar a não-fé, a recusa de acreditar ou as forças do mal. Nesta manhã de Páscoa, O Vivente ainda não está reconhecido, a noite da ignorância e do pecado ainda não está dissipada. A noite em que Judas saiu da Ceia não terminou mas as trevas não poderão reter Aquele que está Vivo e que é O vencedor da morte. O dia vai despontar, a luz vai expulsar as trevas, O Vivente vai ser reconhecido como tal. Lucas, no evangelho do 3º domingo de Páscoa (Lucas 24,35-48), narra o regresso dos discípulos de Emaús e o relato que fizeram aos onze Apóstolos do seu encontro com Cristo e “como Jesus Se lhes dera a conhecer, ao partir do pão”. Jesus está na fonte do reconhecimento, Ele é o sinal que voluntariamente Se mostra. “Eu, Eu sou O bom pastor”, recordamos no 4º domingo. Este “Eu, Eu sou” é mais forte do que apenas “Eu sou”, porque se faz eco da revelação de Deus a Moisés : “Eu, Eu sou Aquele que É” ; “Eu sou Aquele que irei…” Jesus sugere assim a Sua identidade profunda.
“Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye. Selecção e síntese: Jorge Perloiro.
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