S. CLÁUDIO LA COLOMBIÈRE (1641-1682). Sacerdote jesuíta, entusiasta promotor da devoção ao Sagrado Coração de Jesus após conhecer S.TA Margarida Alacoque (foi seu director espiritual), em Paray-le-Monial. Missionário em Inglaterra e autor de obras de ascetismo. O papa S. João-Paulo ll canonizou-o em 1992.
Levítico 13, 1-2. 44-46 ; Sal 31,1-2. 5. 7. 11 ; 1 Coríntios 10, 31–11, 1 ; Marcos 1, 40-45
“O LEPROSO VIVERÁ ISOLADO…”(Lev.13,1-2.44-46). A lepra era sinónimo de exclusão: antes mesmo da morte física, inelutável, já que a lepra não tinha cura, os doentes ficavam condenados à morte social. Teriam que viver afastados da cidade, proíbidos de se aproximarem das pessoas. Legislação severa, justificada pela prudência em preservar os outros do contágio. À época, ninguém duvidava que “Deus é justo” mas imperava uma concepção aritmética da justiça: os homens bons eram recompensados na proporção dos seus méritos e os maus punidos segundo uma justa avaliação dos seus pecados. Esta lei, com a “lógica da retribuição”, não tinha, pensava-se, excepções. Ao ponto de, perante uma pessoa doente, se deduzir que ela teria pecado. Havia pois, também aí, um outro “contágio” a evitar. Por esta razão o leproso em vez de se dirigir ao médico, devia dirigir-se ao sacerdote, quer para declarar a doença quer para demonstrar a cura. O seu estado de pecado tornava-o “impuro”, inapto para os actos de culto : “O leproso cobrirá o alto da cabeça até à boca e gritará: Impuro! Impuro !”
No caso improvável de ter ficado curado, o doente apresentava-se de novo ao sacerdote que procedia a um exame rigoroso e declarava oficialmente a cura e o regresso ao estado e pureza originais e à vida na comunidade. A reintegração do doente sarado era acompanhado de inúmeros rituais de purificação: aspersões, banhos e sacrifícios. Quando Jesus deixava aproximarem-se os leprosos vencia assim duas exclusões porque dava igualmente a entender que a sua doença não estava associada ao pecado, aconselhando-os apenas a submeterem-se à Lei para poderem regressar à vida social.
“NÃO O DIGAS A NINGUÉM…” (Marcos 1,40-45). Na narrativa da cura do leproso, Marcos insiste no contraste : “calar-se / proclamar”. Mas foi practicamente impossível fazer calar o antigo leproso agora purificado : a notícia propagou-se. Impossível…, e agora Jesus tinha que “ficar de fora”, em “lugares despovoados”: “De todas as partes vinham ter com Ele”. Jesus exige silêncio ao que curara mas manda-o ir oficialmente constatar a purificação ao “sacerdote”, conforme à “Lei de Moisés”. Isso servirá de“testemunho às pessoas”. Mas dar testemunho da cura não equivalerá “dizer a todos”? Não existe aqui uma contradição? Não deve esquecer-se que os Evangelhos foram escritos após a ressurreição. Porquê este silêncio imposto, este “ficar de fora” ? Foi preciso aguardar o relato da paixão de Jesus, da Sua morte na Cruz, para se entender. Sem a Cruz, havia o risco de tornar Jesus num mágico fazedor de prodígios. Ora a purificação, a salvação, depende da acção divina e não dum qualquer prodígio natural mesmo excepcional. O gesto de Jesus inscreve-se na acção divina que desvenda a Lei de Moisés, na condição de ser esclarecido pela Cruz. Antes da Cruz, o silêncio impõe-se. Com a Cruz, o testemunho é que se impõe. A partir da Cruz, a purificação do leproso torna-se um“testemunho” para todos. Em Marcos, até os próprios discípulos de Jesus entendem mal o alcance das Suas palavras e gestos. Tudo muda com a Cruz. O Centurião pôde dizer: “Verdadeiramente, este homem era O Filho de Deus !” (Mateus 15,39) e os Onze recebem ordem de “ir pelo mundo inteiro” (proclamar) O Evangelho a toda a criatura”.
“Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.
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