II DOMINGO DO TEMPO DA PÁSCOA – 3/ABRIL/2016

DOMINGO DA MISERICÓRDIA: O papa S. João-Paulo II, durante a sua última viagem à Polónia, em 2002, consagrou o mundo à divina misericórdia e instituiu o domingo a seguir à Pascoa, até aí chamado domingo branco (“in albis”, em latim), como o domingo da Divina Misericórdia. Este tema foi uma constante no pontificado deste Santo Padre, cuja segunda encíclica “Dives in Misericordia” (1980) já a ela fora dedicada. Depois, a sua primeira canonização do Terceiro milénio foi igualmente feita em íntima ligação com a misericórdia ao escolher significativamente, a 30/Abril/2000, a Irmã Faustina Kovalska (1905-1938), mística polaca, à qual Jesus manifestara O Seu Coração transbordante de misericórdia pelos homens, revelando-lhe ser a misericórdia o atributo supremo de Deus. O papa S. João-Paulo II, como sabemos, morreu a 2/abril/2005, primeiro sábado dedicado a Maria que ele tinha no seu lema “Totus Tuus” (copiado a S. Luís-Maria Grignion de Montfort) e – sinal ainda mais perturbador – precisamente no início da vigília do domingo da misericórdia por ele instituido. A mensagem à Irmã Faustina surge pois como um raio de luz no caminho dos homens do lllO milénio. O papa Francisco escreveu na bula proclamatória do Ano Santo da Misericórdia que estamos a viver: “Que S.João-Paulo ll, chamado a entrar nas profundezas da misericórdia divina, interceda por nós !”

Actos 5,12-16 ; Sal 117, 2-4. 22-27a ; Apocalipse 1, 9-11a. 12-13. 17-19 ; João 20,19-31

“REUNIAM-SE TODOS NO PÓRTICO DE SALOMÃO…” (Act.5,12- 16). Os pórticos dos aeroportos são familiares para os que viajam de avião, mas há já alguns meses que encontramos, nas catedrais e igrejas jubilares, pórticos de outra ordem. Num caminho de con-versão ou de peregrinação, somos convidados a passar as “portas santas”. Os Actos dos Apóstolos propõem aos cristãos “reunir–se sob o pórtico…”- unidos na oração e na partilha -, seguindo o exemplo das 1AS comunidades cristãs, de tal forma contagioso, que a Igreja todos os dias acolhia novos membros. Não se trata portanto de apenas passar rapidamente mas de parar uns momentos. Parar para se dar graças, parar para se recuperar o fôlego e deixar-se curar, parar para pedir perdão e dizer obrigado. E ficar mais ligados aO Senhor, neste Ano da Misericórdia, com mais consciência de que ficámos salvos pela morte e ressurreição de Jesus-Cristo. Ou melhor ainda, que essa graça é a paz que nos é dada viver por Cristo ressuscitado.

“ASSIM COMO O PAI ME ENVIOU, TAMBÉM EU VOS ENVIO…” (Jo. 20, 19-31 ). Duas aparições num igual enquadramento : num domingo ao anoitecer ; os discípulos barricados por medo dos judeus, Jesus surge “no meio deles”, com a mesma saudação: “a paz esteja convosco”. Porém, cada aparição tem um propósito próprio. Na primeira, O Ressuscitado confia uma missão aos discípulos “Também Eu vos envio” ; Ele dá-lhes O Espírito Santo para perdoar ou reter os pecados. Na segunda, faz avançar Tomé, que quer acreditar, mas na condição de ver e tocar Aquele que fora crucificado. O objectivo de João é que os seus leitores acreditem que “Jesus é Cristo, O Filho de Deus”, para que tenham “a vida em Seu nome”. O evangelista explica que os primeiros discípulos rece- beram na Páscoa o Sopro de Deus para irem anunciar a toda a humanidade a Boa Nova. Os pecados podem perdoar-se: na Sua misericórdia, Deus dá a Sua vida a todos, em Jesus. O profeta Joel já profetizara que O Sopro divino seria recebido na vinda dos novos tempos preparados por Deus. Este acontecimento realiza-se agora. O Reino é oferecido a todos. Jesus é O Messias-Rei das Escrituras. A Páscoa não é uma repetição do passado. É falso pensar que seria mais fácil refazer tudo como dantes. O Ressuscitado fica invisível aos nossos olhos porque Ele Se uniu ao mundo divino. Entrámos no tempo de “acreditar sem ver”. A fé subtitui o “ver” e o “tocar” ; só ela permite ver O Senhor, apoiada no teste- munho das Escrituras. A Páscoa surpreendeu os discípulos, mas Aquele que foi cravado e transpassado pela lança na cruz, Aquele que acompanharam, é O que está “no meio deles”.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.