II DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA – 21/FEVERElRO/2016

a_TransfiguracaoS. PEDRO DAMIÃO (1007-72). Natural de Ravena, abraçou a vida monástica e aproveitou a solidão para estudar. Tendo alcançado muita sabedoria foi nomeado Superior da sua ordem (Beneditina camalducense). Inculcava nos irmãos as virtudes da caridade, da humildade e da presença de Deus. Escreveu muito, denunciando com vigor os excessos de uma parte do clero da época, preparando assim o caminho da reforma gregoriana. Em 1057, o papa Estêvão IX nomeou-o, contra a sua vontade, cardeal de Óstia. Teve então que se envolver nos problemas da política eclesiástica e que viajar muito, mas sempre desejoso de voltar à sua cela. É Doutor da Igreja.

Gén.15,5-12.17-18; Sal 26,1.7-9.13-14 ; Filipenses 3,17–4,1 ou 3,20–4,1; Lucas 9,28b-36

“NESSE DIA O SENHOR FEZ UMA ALIANÇA COM ABRAÃO” (Gén. 15,5 – 12.17-18). Abraão, “pai dos crentes” – é este o seu título de glória – concluiu a Aliança Santa com Deus, nas condições que o autor inspirado relata de forma dramática. Na Transfiguração, igual “terror sagrado” se apodera de Pedro, Tiago e João. Em ambos os relatos se vive um clima semelhante: a noite, o entorpecimento, o medo… De facto, como poderá a criatura – que é pó e cinza – empertigar-se perante a Majestade divina? Na verdade, só quando o homem estiver penetrado até ao fundo de si mesmo da transcendência de Deus – o que não exclui o amor mas, ao invés, o baseia em fundamento sólido – será possível concluir, nas melhores condições, essa Aliança que diviniza. Foi num dia assim que Deus fez uma promessa solene a Abraão a dois níveis. O patriarca irá ter uma descendência semelhante às estrelas do céu – (1º nível) – destinada a uma vida não apenas terrena porque Abraão gerará “grãos de poeira” incontáveis de que a Aliança fará luminárias celestes – (2º nível). O pobre corpo humilhado do homem transformar-se-á então em corpo glorioso. Jesus transfigurado é a testemunha que garante a realização da promessa. A descendência prometida a Abraão, é Ele; resplandecente com o brilho que reflecte a glória divina, Ele é simultaneamente um e inumerável: primogénito duma multidão de irmãos e filhos.

UMA NOVA PROFUNDIDADE (Lucas 9,28-36). No momento da Transfiguração, uma luz inesperada envolveu Jesus e, através d’Ele, o mundo inteiro. O Seu rosto humano, tão próximo alguns momen- tos antes, está banhado de uma promessa nova: o amor dO Pai grava nos Seus traços a possibilidade duma vida infinita. No caminho dos discípulos, este instante podia ser apenas um parêntesis. Mas Ele é sobretudo traço de união, corrente de luz que relê a partir deste momento tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá, Àquele que é o autor de toda a vida. Tudo, a partir de agora, pode ser revestido desta maré luminosa e receber consistência e profundidade novas. Desde a Primeira Aliança, Deus promete a vida para sempre, e convida o homem a ter os olhos erguidos para as estrelas, sinais de bênção. Após a Ressurreição, Paulo, evo- cando a salvação oferecida por Cristo, reconhece-lhE o poder de tudo “transformar”. Assim a realidade torna-se outra ao deixar-se levar pelo movimento da vida e luz do amor de Deus. Todos os nossos actos para a vida do mundo, todos os nossos gestos para os irmãos são humilde participação na transformação definitiva inaugurada por Cristo. O papa Francisco recorda, na encíclica Laudate Si’, que O Filho de Deus com a Sua ressurreição integrou no universo “uma semente de transformação definitiva”. E sublinha ainda, “a humanidade ressuscitada dO Senhor” é a “bitola da transfiguração final de toda a humanidade”.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris. Selecção e síntese: Jorge Perloiro.