III DOMINGO DO TEMPO COMUM – 24/JANEIRO/2016

a_EsdrasLeATorahS. FRANCISCO DE SALES (1567-1622). No final do séc.XVI, marcado pela extrema violência das guerras religiosas, o insulto e a espada substituiam os argumentos. Por isso, quando Francisco de Sales, em 1593, chegou à Província de Chablais, no norte da Saboia, só com as “armas” da sua fé, mansidão e urbanidade, esta forma de agir teve tanta repercussão e saldou-se por tão brilhante sucesso. Imediatamente, a fama do jovem sacerdote se propagou, no Ducado de Saboia e por toda a França. O jovem pregador espantava os ouvintes indicando-lhes – três séculos e meio antes do Vaticano II! – que “a aspiração à vida perfeita”, a chamada à santidade, era para todos: sacerdotes, monges e religiosos, mas também para leigos, fossem eles príncipes, comerciantes, soldados, casados ou solteiros. Nomeado bispo de Genebra e d’Annecy, em 1602, Francisco de Sales teve muitas ocasiões para insistir nesta convicção inovadora. Na linha do Concílio de Trento procurou melhorar a formação do clero, reformar algumas comunidades religiosas, sem cessar de percorrer incansavelmente a sua diocese para ir falar de Deus – com simplicidade – aos aldeões e camponeses. Em 1604, em Dijon, encontrou providencialmente a futura santa Joana-Francisca de Chantal : juntos, fundaram, 6 anos mais tarde em Annecy, a “Ordem da Visitação” cuja particularidade – rara na época – era estar aberta às mulheres de saúde frágil. De facto, o autor da célebre “Introdução à vida devota” considerava que, sendo todos chamados à perfeição da vida cristã, cada um devia responder a esse apelo em função das suas capacidades físicas e das respectivas obrigações sociais. A influência do santo, já muito forte durante a vida, não diminuiu após a sua morte. Doutor da Igreja , em 1877, patrono dos jornalistas e dos escritores, guia de numerosas congregações religosas colocadas sob a sua protecção (como por exemplo, os Salesianos de Dom Bosco), ele continua a tocar os corações devido à sua espiritualidade terna, generosa e equilibrada.

Neemias 8,2-4a.5-6.8-10; Sal 18,8-10.15 ; 1 Coríntios 12,12-30; Lucas 1,1-4; 4,14-21

“LECTIO DIVINA” (Neem.8,2-4a.5-6.8-10). Esta passagem de Livro de Neemias descreve uma admirável e inesperada liturgia. A vitória do rei Ciro (538) marcara o fim do exílio na Babilónia – após a tomada de Jerusalém – do povo Judeu. Jerusalém ficara num lastimoso estado material e moral. A coabitação entre os Judeus que tinham continuado na cidade e os que regressavam do exílio não era boa. Tornava-se necessário refazer a unidade e sobretudo, reencontrar o caminho da fé comum. Antigo exilado, Neemias, nomeado por Ciro governador da Judeia, pede o auxílio do sacerdote Esdras, que convoca a multidão e procede – numa tribuna de madeira, como o ambão duma igreja – à leitura da Lei de Moisés (Tora). É uma leitura feita em várias etapas: proclamação do texto hebraico, a seguir tradução para o aramaico – os exilados já não compreendiam o hebraico – e, por fim, o seu comentário e actualização. Percurso no termo do qual se renova a Aliança… Procedimento interessante – praticado nas sinagogas – que devemos imitar para meditar a Bíblia: 1º ler o texto, a seguir procurar traduzi-lo, compreender as palavras, o contexto histórico, a simbologia da época – recorrendo por exemplo às notas da Bíblia – e por fim actualizá-lo, escutando o seu eco na nossa vida. São as sucessivas etapas duma “leitura orante” da Palavra a que os monges chamam “Lectio divina”.

UM TEMPO FAVORÁVEL PARA A lGREJA(Luc.1,1-14;4,14-21). “Eu desejei este Jubileu extraordinário da misericórdia como um tempo favorável para a Igreja, a fim de que o testemunho dado pelos crentes seja mais forte e eficaz”(Misericordia Vultus, 3). O papa Francisco abriu o ano jubilar com estas palavras fortes a mostrar que Deus entra no tempo dos homens para aí increver o Seu extrardinário. O Jubileu é desejado pelo papa como um Ano Santo (Levítico 25), um tempo favorável, um tempo de acolhimento, dado pelO Senhor. Com efeito, é Deus quem dá o ritmo de que o homem necessita para escapar à rotina e aos hábitos. “Eis o momento favorável para se mudar de vida” diz-nos o papa. “Que ninguém fique indiferente !” O apelo é tão urgente, que faz o coração do Evangelho bater e despertar as consciências. Mas será que o tempo favorável se circunscreve apenas a um ano? A porta da misericórdia fechar-se-á a 20 de Nov./2016 ? As leituras deste domingo mostram que a chave está na palavra de Deus, que hoje ouvimos da boca de Jesus. As Suas palavras abrem-nos o coração e a inteligência pois quando Ele lê a Escritura abrindo o rolo, Ele próprio é a Palavra. Assim, Jesus lê o anúncio de um ano santo e cala-Se. Cala-Se porque Ele mesmo é sinal, realização no meio dos homens, do cumprimento da Palavra. Tudo está dito: o tempo favorável está no hoje em que cada um é chamado a “deixar-se tocar no coração”. É um tempo de libertação cuja medida é dada por Cristo. O Seu amor é o ritmo da vida.

7º DIA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE : A HOSPlTALlDADE NA ORAÇÃO. Senhor Jesus, Tu pediste aos Teus discíplos para vigiar e orar conTigo. Ajuda-nos a reencontrar-nos primeiro aproximando-nos de Ti nesta oração comum. Faz com que possamos oferecer ao mundo tempos e lugares privilegiados que lhe permitam reeger-se e encontrar a paz. Leituras: Is.62,6-7 ; Sal 99 ; 1 Pedro 4,7b-10 ; João4, 4-14

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.