XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – 22/NOVEMBRO/2015 – CRISTO REI DO UNIVERSO

A_CristoReiDoUniversoDaniel 7, 13-14 ; Sal 92,1-2. 5 ; Apocalipse 1, 5-8 ; João 18, 33b-37

CRISTO, FONTE E META FINAL DE TODA A VIDA (Apocal.1,5-8). O Apocalipse dá-nos a chave para se compreender O Reino de Deus que Jesus veio trazer-nos. Não sendo um poder nem militar nem mágico, tem ascendente moral sobre o mundo, e é simbolizado pela Cruz, que faz Jesus dizer: “O Meu Reino não é deste mundo”. Com Sua realeza, Cristo transfigura o mundo pelo interior: Alfa e Ómega de toda a vida, Ele habita qualquer ser criado como fermento, levando-o à plenitude da sua existência. A solenidade de Cristo Rei do Universo recorda ao homem que ele é, como qualquer criatura, “beneficiário” do amor de Deus. O homem recupera o seu devido lugar no mundo. Como hoje ressoa alto o apelo urgente do papa Francisco na sua encíclica Laudato Si! O homem não é o fim último de todas as outras criaturas. Ele está unido a elas numa caminhada comum para Deus, que, Ele sim, é o final das coisas criadas, “numa plenitude
transcendente em que Cristo ressuscitado abarca e ilumina tudo” (nº 83). Festejar Cristo Rei do Universo, é portanto retomar o caminho que nos conduz a Ele, fonte e finalidade de toda a vida, e, num impulso de fraternidade com as outras criaturas, apresentar o mundo aO Seu Amor para que Ele o leve seguramente à plenitude da vida.

UM REI DE JOELHOS (João 18,33b-37). Pode dizer-se que hoje é a festa de um mundo virado do avesso. Anunciavam-nos um rei omnipotente mas, afinal, trata-se duma criança que veio nascer num estábulo! No tempo de Jesus este mal-entendido era patente. O povo Judeu aguardava um libertador do império romano que os sufocava, e dos oportunistas “colaboracionistas”, saídos das próprias fileiras. Esperavam “O Messias”, que etimológicamente quer dizer “o que foi ungido com o óleo” da unção real. Para esses judeus “O Messias” seria necessariamente um grande guerreiro, o chefe da resistência que expulsaria o inimigo. E eis que vêem chegar Jesus, doce e humilde, pacifista fora do tempo : “O Rei dos Exércitos” revelava-se… um rei desarmado! Surpreendente a escolha deste Evangelho para o domingo que precede o Avento: diálogo entre Pilatos e Jesus, antes da Paixão. Interessante modo de nos fazer entrar no Advento! Todavia, ele encerra uma poderosa súmula simbólica que nos lembra – quando nos aproximamos do presépio – que O Messias que vai chegar é um Messias injuriado, rejeitado, crucificado. Por Se dar totalmente e, por Se ajoelhar diante do homem para lhe lavar os pés, é que Cristo Se tornou Rei. Ao oferecer-lhE mirra – substância preciosa para embalsamar os mortos – um dos “magos” está a lembra-nos o escândalo de um Deus disposto a dar a Sua vida por nós. “Quando tento imaginar Deus, vejo-O ajoelhado em oração diante de mim”, escreveu François Varillon S.J. Na festa de Cristo, Rei dO Universo, contemplemos Jesus, na Sua glória e majestade, na Cruz, Servo dO Amor de Deus até ao fim. Recebemos hoje um convite para servir os nossos irmãos, tal como Ele, por Amor. Nunca esqueçamos que, na Eucaristia, obtemos a graça e a força necessárias para fazer crescer O Seu Reino em nós e à nossa volta. “O Meu Reino não é deste Mundo”. Esta afirmação de Jesus resume todas as Suas recusas de um messianismo triunfante : quando da tentação do diabo no deserto, nos milagres, etc.. Talvez sejamos tentados a julgar os discípulos e os contemporâneos de Jesus, condenando-os por causa de não O terem compreendido. Mas não teremos nós o mesmo problema? De facto, basta atentar nas questões que nos afectam para se verificar como ficamos igualmente perplexos e escandalizados: “Porque tolerará Deus a injustiça, o mal, a violência?”; “Porque não imporá Ele O Seu Reino de Amor e de Paz?”; “Porque deixará Ele a Sua Igreja debater-se com tantas dificuldades?” Como escreveu STO. Hilário: tudo isto nos deve incitar a “sobrevoar e penetrar nO Mistério”. Mistério de um Deus que escolheu O Amor, a humildade e a loucura da Cruz para Se revelar.” Irmã Emmanuelle, ermitã beneditina.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.