XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – 1/NOVEMBRO/2015

a_OParaisoFESTA DE TODOS OS SANTOS. Novembro mais do que o mês da lembrança é o mês da gratidão, na qual Deus tem o Seu lugar. Precisamos de reler o apelo feito pelo papa aos religiosos e a todos os consagrados, convidando-os a “ver o passado com reconhecimento”, para “viver com paixão o presente” e “abraçar com esperança o futuro”. Estas palavras são uma advertência oportuna no outono, que pode virar-nos para dentro, e em particular neste mês, carregado com a recordação daqueles que amámos e partiram. A morte dos próximos interrompe a torrente da vida e seca, às vezes por muito tempo, as fontes da alegria. O papa Francisco convida ao reconhecimento, à boa lembrança, a que é tocada e curada pelo Evangelho. Isto orienta a nossa oração no sopro da comunhâo dos santos, que nos constroi e, insensivelmente, guia. Podemos então reconhecer aquilo que, na nossa história, vem de Deus e tem a força das Suas fundações. A palavra de Jesus volta a dar-nos o sabor da primavera, e aquela frescura de que só Deus é a fonte.

Apocalipse 7, 2-4. 9-14 ; Sal 23, 1-6 ; 1 João 3, 1-3 ; Mateus 5, 1-12a

AS BEM-AVENTURANÇAS, CHAVES DA BOA NOVA (Mat.5,1-12a). Há alguns anos, numa peregrinação à Terra Santa, o cardeal Filipe Barbarin dizia que as bem-aventuranças são “o tesouro do Evangelho e o auto-retrato de Jesus”. O tesouro ou chave da compreensão, porque cada episódio do Novo Testamento pode ser iluminado por uma das frases do Sermão da montanha, das Bem-aventuranças, de Jesus. O auto-retrato, porque elas revelam-nos o rosto de Jesus manso, misericordioso, pobre e artífice da paz. Por isso, o arcebispo de Lyon, recomendava que os cristãos deviam saber de cor o texto deste domingo. Há pelo menos uma das bem-aventuranças que podemos decorar durante o Ano Santo que se avizinha: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Que relatos dos evangelhos nos aparecem iluminados por esta bem-aventurança? O Cura d’Ars, o padre Américo, Madre Teresa… quantas figuras da Igreja a encarnaram até hoje? Que rostos da vida quotidiana nos surgem quando pensamos nela? Mas talvez seja outra a bem-aventurança que mais directamente nos fala nesta festa de Todos os Santos. De facto, as Bem-aventuranças não nos dão apenas acesso a todo O Evangelho, elas abrem-nos também de par em par as portas dO Reino : “… porque deles (dos que as põem em prática) é O Reino do Céu”. Deve ser esta a graça a pedir neste dia de festa tão solene: descobrirmos a santidade de Deus a operar hoje no mundo e na Igreja. Os corações puros, os famintos de justiça, os mansos… eles existem, humildemente e sem fazerem ruído. Que dádiva maravilhosa poder assim identificá-los! Uma boa festa de Todos os Santos! “Quem somos afinal? Simples seres vorazes que acumulam? Meras forças desenfreadas, desordenadas, no meio da selva? Apenas seres insensíveis, fechados em si mesmos, a caminho da morte? Em suma, lobos…? Não !, diz-nos Jesus. Mas não haverá humanidade em nós se não a distinguirmos daquilo que ela não é. Não haverá humanidade se não soubermos optar pelo irmão maltratado, se não tivermos em nós algo divino maior que ela. O Ser que Jesus esboça com as Suas palavras é mais que uma flor, mais que uma obra de arte, é um prodígio de nobreza, alguém tão desprendido que é finalmente capaz de se abrir, de se dar, de se reencontrar. Jesus esboça aqui o Seu retrato. Cada bem-aventurança finaliza com uma frase que nos convida a ultrapassar as aparências para chegar à nossa verdade mais íntima. E este cântico de amor não soa sempre igual; tão irrequietos somos que, em cada instante, passam por nós algo das Suas promessas de felicidade. Atentemos no que já nos foi dado, porque o que nos faltar ficará para amanhã” – Anne Soupa.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris).