VI DOMINGO DA PÁSCOA – 10/MAIO/2015

a_PermaneceiNoMeuAmorS. DAMIÃO DE MOLOKAI (1840-1889). Nos meados do séc.XlX, a lepra começou a disseminar-se nas ilhas do Havai. Inquietas com a propagação desta terrível doença então incurável, as autoridades tomaram uma deci-
são brutal, radical: reunir todos os leprosos e isolá-los numa das ilhas do arquipélago, Molokai.
Entretanto o bispo D. Maigret de Honolulu, que não podia resignar-se a abandonar aqueles seres humanos a um destino tão trágico, solicitou sacerdotes voluntários que se revezassem para assegurar junto deles uma
presença fraterna. O 1º a ir foi o sacerdote belga José Veuster que, ao entrar com 19 anos na Congregação dos “Sagrados Corações de Jesus e de Maria”, tinha escolhido o nome de Damião. Cinco anos mais tarde aportou a Honolulu como missionário, em vez do seu irmão Pamfílio que, gravemente doente, não tinha podido partir. Dois dias apenas após a sua chegada, escrevia ao superior: “Terá de haver um sacerdote residente neste lugar (…) Eu quero sacrificar-me pelos pobres leprosos”. E, de facto, em 16 anos, Damião iria transformar esse inferno a céu aberto, essa ilha prisão, numa verdadeira comunidade humana. Não podia curar os doentes, mas nada o impedia de os consolar, de os amar e de tentar recuperar-lhes o gosto pela vida. Rapidamente se espalhou no mundo inteiro a fama do heróico servo dos leprosos: as ajudas financeiras afluiram, o que permitiu ao padre Damião construir casas, uma igreja, um orfanato, um hospital… “A minha maior felicidade é servir O Senhor nos seus pobres filhos doentes, regeitados pelos os homens”, escrevia. Em 1884, o padre Damião descobriu que ele próprio tinha contraído a lepra. Morreu a 15/Abril/1889, no início da Semana Santa. Pela sua doação total aos mais pobres, Damião exerceu uma influência decisiva sobre várias grandes figuras da caridade cristã: STAMariana Cope, Raoul Follereau, BTATeresa de Calcutá, irmã Emmanuelle… Foi beatificado em 1895 pelo papa S.João-Paulo ll e canonizado pelo papa Bento XVl, em 2009.

Actos 10, 25-26. 34-35. 44-48 ; Sal 97, 1-4 ; 1João 4, 7-10 ; João 15, 9-17

“COMO O PAl ME AMOU…”(João 15,9-17). Já foram lidas na semana passada (na 5ª e 6ª feira) as duas passagens que constituem o evangelho de hoje. Mas, ao domingo, é bom relê-las em conjunto porque, assim reunidas, ganham uma cor nova. Nos primeiros versículos deste magnífico texto, os temas do amor e da alegria estão firmemente entrelaçados : “Permanecei no Meu amor (…) Disse-vos isto para que a Minha alegria esteja em vós, e que a vossa alegria seja completa (…) Amai-vos uns aos outros…” Na verdade, no dia dO Senhor é possível ver desenhar-se melhor o grande mistério do amor criador e salvador – que dO Pai jorra para O Filho, de Cristo sai para os discípulos e, a seguir, irriga todas as nossas relações mesmo quando até nos esquecemos de as reportar à fonte. O amor de Deus é O primeiro e precede-nos sempre em tudo. “Na verdade – escreve João Tauler, místico do século XIV – Deus deseja-nos como se toda a Sua felicidade dependesse de nós”. O Seu amor pede-nos uma resposta de amor, que será tanto mais livre quanto mais ela for iluminada pela revelação trazida pelO Filho: “Dei-vos a conhecer tudo o que aprendi de Meu Pai”. Este amor recíproco não se fecha portanto sobre si mesmo : é um amor expansivo, que se dá para irradiar, para “produzir frutos”. É um amor Pascal: amor que passa através de nós e transforma o mundo.

Meditações Bíblicas”, tradução dos Irmãos Dominicanos da Abadia de Saint-Martin de Mondaye (Suplemento Panorama, Edição Bayard, Paris). Selecção e síntese: Jorge Perloiro.